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4 de mai. de 2015

O que é a Teologia Reformada?

Por James Boice

A Teologia Reformada recebe seu nome da Reforma Protestante do século XVI, com suas ênfases teológicas distintas, mas é teologia solidamente baseada na própria Bíblia. Os crentes na tradição reformada têm alta consideração as contribuições específicas como as de Martinho Lutero, Jonh Knox e, particularmente, de João Calvino, mas eles também encontram suas fortes distinções nos gigantes da fé que os antecederam, tais como Anselmo e Agostinho e principalmente nas cartas de Paulo e nos ensinamentos de Jesus Cristo.
Os Cristãos Reformados sustentam as doutrinas características de todos os cristãos, incluindo a Trindade, a verdadeira divindade e humanidade de Jesus Cristo, a necessidade do sacrifício de Jesus pelo pecado, a Igreja como instituição divinamente estabelecida, a inspiração da Bíblia, a exigência para que os cristãos tenham uma vida reta, e a ressurreição do corpo. Eles sustentam outras doutrinas em comum com cristãos evangélicos, tais como justificação somente pela fé, a necessidade do novo nascimento, o retorno pessoal e visível de Jesus Cristo e a Grande Comissão.

O que, então, é distinto a respeito da Teologia Reformada?

1. A Doutrina das Escrituras

O compromisso da reforma para com a Escritura enfatiza a inspiração, autoridade e suficiência da Bíblia. Uma vez que a Bíblia é a Palavra de Deus e, portanto, tem a autoridade do próprio Deus, os reformadores afirmam que essa autoridade é superior àquela de todos os governos e de todas as hierarquias da Igreja. Essa convicção deu aos crentes reformados a coragem para enfrentar a tirania e fez da teologia reformada uma força revolucionária na sociedade. A suficiência das Escrituras significa que ela não necessita ser suplementada por uma revelação nova ou especial. A Bíblia é o guia completamente suficiente para aquilo que nós devemos crer e para como nós devemos viver como cristãos.

Os Reformadores, em particular, João Calvino, enfatizaram o modo como a Palavra escrita, objetiva e o ministério interior, sobrenatural do Espírito Santo trabalham juntos, e o Espírito Santo iluminando a Palavra para o povo de Deus. A Palavra sem a iluminação do Espírito Santo mantém-se como um livro fechado. A suposta condução do Espírito sem a Palavra leva a erros excessos. Os Reformadores também insistiam sobre o direito de os crentes estudarem as Escrituras por si mesmos. Ainda que não negando o valor de mestres capacitados, eles compreenderam que a clareza das Escrituras em assuntos essenciais para a salvação torna a Bíblia propriedade de todo crente. Com esse direito de acesso, sempre vem a responsabilidade sobre a interpretação cuidadosa e precisa.

2. A Soberania de Deus

Para a maioria dos reformadores, o principal e o mais distinto artigo do credo é a soberania de Deus. Soberania significa governo, e a soberania de Deus significa que Deus governa sua criação com absoluto poder e autoridade. Ele determina o que vai acontecer, e acontece. Deus não fica alarmado, frustrado ou derrotado pelas circunstâncias, pelo pecado ou pela rebeldia de suas criaturas.

3. As Doutrinas da Graça

A Teologia Reformada enfatiza as doutrinas da graça.

Depravação Total: Isso não quer dizer que todas as pessoas são tão más quanto elas poderiam ser. Significa, antes, que todos os seres humanos são afetados pelo pecado em todo campo do pensamento e da conduta, de forma que nada do que vem de alguém, separado da graça regeneradora de Deus, pode agradá-lo. À medida que nosso relacionamento com Deus é afetado, nós somos tão destruídos pelo pecado, que ninguém consegue entender adequadamente Deus ou os caminhos de Deus. Tampouco somos nós que buscamos Deus, e, sim, é ele quem primeiramente age dentro de nós para levar-nos a agir assim.

Eleição Incondicional: Uma ênfase na eleição incomoda muitas pessoas, mas o problema que as preocupa não é realmente a eleição; diz respeito à depravação. Se os pecadores são tão desamparados em sua depravação, como a Bíblia diz que são, incapazes de conhecer a Deus e relutantes em buscá-lO, então, o único meio pelo qual eles podem ser salvos é quando Deus toma a iniciativa de mudá-los e salvá-los. É isso que significa eleição. É Deus escolhendo salvar aqueles que, sem sua soberana escolha e subseqüente ação, certamente pereceriam.

Expiação Limitada: O nome é, potencialmente, enganoso, pois ele parece sugerir que os reformadores desejam de alguma forma limitar o valor da morte de Cristo. Não é o caso. O valor da morte de Cristo é infinito. A questão é saber qual é o propósito da morte de Cristo e o que ele realizou com ela. Cristo pretendia fazer da salvação algo não mais que possível? Ou ele realmente salvou aqueles por quem morreu? A Teologia Reformada acentua que Jesus realmente fez a propiciação pelos pecados daqueles a quem o Pai escolhera. Ele realmente aplacou a ira de Deus para com seu povo, assumindo a culpa sobre si mesmo, redimindo-os verdadeiramente e reconciliando verdadeiramente aquelas pessoas específicas com Deus. Um nome melhor para expiação “limitada” seria redenção “particular” ou “específica”.

Graça Irresistível: Abandonados em nós mesmos, nós resistimos à graça de Deus. Mas, quando Deus age em nosso coração, regenerando-nos e criando uma vontade renovada, então, o que antes era indesejável torna-se altamente desejável, e voltamo-nos para Jesus da mesma forma como antes fugíamos dele. Pecadores arruinados resistem à graça de Deus, mas a sua graça regeneradora é efetiva. Ela supera o pecado e realiza os desígnios de Deus.

Perseverança dos Santos: Um nome melhor seria “perseverança de Deus para com os santos”, mas ambas as idéias estão realmente juntas. Deus persevera conosco, protegendo-nos de deixar a fé, que certamente aconteceria se ele não estivesse conosco. Mas, porque ele persevera, nós também perseveramos. Na realidade, perseverança é a prova definitiva de eleição.

4. Mandato Cultural

A Teologia Reformada também enfatiza o mandato cultural ou a obrigação de os cristãos viverem ativamente em sociedade e de trabalharem para a transformação do mundo e suas culturas. Os reformadores tiveram várias perspectivas nessa área, dependendo da extensão como acreditam que a transformação seja possível. Mas, no geral, concordam com duas coisas. Primeira, nós somos chamados para estar no mundo e não para nos afastarmos dele. Isso separa os reformadores crentes do monasticismo. Segunda, nós devemos alimentar os famintos, vestir os despidos e visitar os prisioneiros. Mas as principais necessidades das pessoas são espirituais, e a obra social não é substituto adequado para a evangelização. Na verdade, o empenho em ajudar as pessoas só será verdadeiramente eficiente se seu coração e mente forem transformados pelo Evangelho. Isso separa os crentes reformados do simples humanitarismo.

Tem-se alegado que, para a Teologia Reformada, qualquer pessoa que crê e faça parte da linha reformada perderá toda a motivação para a evangelização. “Se Deus vai agir, por que devo me preocupar?” Mas não é assim que funciona. É porque Deus executa a obra que nós podemos Ter coragem de nos unirmos a ele, da forma como ele nos ordena a agir. Nós agimos assim alegremente, sabendo que nossos esforços jamais serão em vão.

6 de jan. de 2015

Sermões para crianças

Por James  Boice

Eu não prego sermões para crianças. Eu sei que os pais gostam muito desses sermões, e que eles são uma parte muito importante dos cultos de domingo na maioria das igrejas evangélicas. Mas eu não gosto deles. Deixe-me explicar por quê.

A primeira razão é que os sermões para crianças distraem as pessoas no culto de adoração a Deus. Estes sermões infantis têm como objetivo envolver as crianças no culto de louvor a Deus, oferecendo algo apropriado à sua idade. Porém o efeito disso, seja ele intencional ou não, é de focalizar a atenção dos adultos nas crianças, e isso não é para ser feito quando vamos à igreja. Nós deveríamos estar focalizando a atenção em Deus. Eu acho que, quando as crianças são convidadas a vir à frente para ouvir algumas palavrinhas bonitas do pastor, todos os adultos ficam animados e concentram toda sua atenção nas crianças. Eles se divertem. Eles riem. É um momento muito “especial” do culto. No entanto isso não se trata de adoração. Sermões para crianças tiram a atenção das pessoas da adoração, mesmo que tenham sido feitos no começo do culto; na maioria das vezes não acontecem antes do culto propriamente dito. Na prática, os sermões para crianças chegam muito perto de ser idolatria, já que eles convidam a cultuarmos o fruto de nossos lombos ao invés do culto ao Senhor.

Minha segunda razão é que os sermões para crianças são apenas parte (do que tenho visto), de todo um mau caminho pelo qual os cultos têm seguido. Eles são parte do que nós chamamos de “emburrecer” em outras disciplinas. Deixe-me colocá-lo desta forma. O objetivo que nós deveríamos ter com nossas crianças é de trazê-las ao nível dos adultos – isto é, capacitá-las a começar a agir num nível mais adulto em seu relacionamento com Deus. Porém, ao invés de sermos bem sucedidos nisto, nós temos sido bem-sucedidos em trazer os adultos a um nível infantil. Em muitas igrejas o sermão raramente é apropriado a qualquer mente genuinamente adulta; os corinhos de louvor seriam mais apropriados num encontro de escolas de segundo grau do que no culto ao Deus da Bíblia; e os sermões para crianças provavelmente falam tanto à imaturidade do adulto quanto à criança. Aliás, os sermões para crianças geralmente são voltados para as crianças menores, e as outras crianças são ignoradas.

O argumento de defesa desta prática ruim é que as crianças não conseguem entender o que acontece na igreja. Mas isto não é verdade. Elas podem entender. E mesmo que elas inicialmente não consigam entender o que está acontecendo, nossa tarefa é de ensiná-las a fim de que não só possam como também, de fato, venham a entender. E por que não? Não se leva muito mais tempo para ensinar as crianças a participarem do culto do que se leva para preparar alguns dos sermões para crianças dos quais eu ouvi. Nós pensamos a respeito desse desafio na Décima Igreja Presbiteriana na Filadélfia e desenvolvemos algumas idéias que, cremos, funcionam muito bem.

Em primeiro lugar nós deixamos crianças muito mais jovens do que costumávamos ter participarem do culto. Nós continuamos separando as crianças muito pequenas, para o bem dos pais, como para o bem das próprias crianças. Não queremos que hajam demasiadas distrações para qualquer pessoa. Não obstante, nós mantemos as crianças da segunda série para cima no culto. Eles já lêem nesta idade, assim como participam, e nós cremos que é bom que nossas famílias prestem culto juntas.

Em segundo lugar, nós preparamos um boletim para crianças. Esse boletim é entregue às crianças na mesma hora e local onde os adultos recebem o seu boletim. O boletim infantil contém o texto de partes do culto como o credo dos Apóstolos, e existem barras laterais e pequenos textos adicionais que explicam o que as várias palavras e frases que ocorrem durante o culto significam. A terceira página contém um sumário de um parágrafo sobre o sermão com várias perguntas sobre o mesmo para as crianças mais velhas, e uma sessão chamada “Palavra de Alerta” para crianças mais jovens. “Palavra de Alerta” lista palavras que eles devem prestar atenção durante o desenrolar do sermão.

Em terceiro lugar, tanto eu quanto o responsável pela música, comparecemos a abertura das atividades de escola dominical todo domingo para falar sobre o sermão e os hinos. Eu explico sobre o que estarei pregando e o que as crianças devem prestar atenção. Eu até mesmo peço às crianças que orem por aqueles que não são cristãos, que eles venham a ouvir o que Deus tem a dizer e sejam convertidos. O responsável pela música fala sobre os hinos que nós iremos cantar, seu conteúdo, quem os escreveu e porque nós os cantamos dessa maneira.

A propósito, nós ensinamos hinos às crianças ao invés de corinhos, já que elas aprendem com muita facilidade nesta idade. Nós fazemos com que as crianças memorizem o catecismo infantil e grandes porções das Escrituras também, crendo que é um sério erro desperdiçar o tempo precioso da Escola Dominical com meros joguinhos ou assuntos triviais.

Eu gostaria que outros pastores e outras igrejas repensassem o que estamos fazendo com nossas crianças. Existe mais de uma maneira de evitar com que esses pequeninos tropecem.
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Transcrito da revista “Modern Reformation”, edição de novembro e dezembro de 1999.

24 de nov. de 2014

A Ceia do Senhor

Por James Boice 

O segundo dos sacramentos protestantes é a Ceia do Senhor, que Jesus instituiu na noite anterior à sua crucificação. Este acontecimento está registrado em cada um dos evangelhos sinópticos (Mt 25:17-30; Mc 14:12-26; Lc 22:7-23), porém o melhor relato e o mais completo, encontramos em I Coríntios em uma passagem em que Paulo está procura corrigir alguns abusos que os crentes estão praticando na igreja de Corinto durante a Ceia do Senhor. A passagem é a seguinte:

“Porque eu recebi do Senhor o que também vos entreguei: que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão; e, tendo dado graças, o partiu e disse: Isto é o meu corpo, que é dado por vós; fazei isto em memória de mim. Por semelhante modo, depois de haver ceado, tomou também o cálice, dizendo: Este cálice é a nova aliança no meu sangue; fazei isto, todas as vezes que o beberdes, em memória de mim. Porque, todas as vezes que comerdes este pão e beberdes o cálice, anunciais a morte do Senhor, até que ele venha. Por isso, aquele que comer o pão ou beber o cálice do Senhor, indignamente, será réu do corpo e do sangue do Senhor. Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e, assim, coma do pão, e beba do cálice” (I Co 11:23-28).

A Ceia do senhor é similar ao batismo, pois possui todos os elementos de um sacramento. Porém se diferencia do batismo visto que o batismo é um sacramento de iniciação (é o testemunho de uma identificação primária com Cristo, identificação sem a qual não é possível se ser cristão), enquanto que a Ceia do Senhor é um sacramento contínuo que deve ser observado vez após vez (“Porque, todas as vezes que comerdes este pão e beberdes o cálice”) no transcurso da vida cristã. Esta natureza da ceia do Senhor se vê em seu significado passado, presente e futuro.

O significado passado

Este significado passado da Ceia do Senhor claramente é resultante do uso da palavra “memória”. Na Ceia do Senhor olhamos até o passado, até a morte do Senhor. Antes de tudo, recordamos Seu sacrifício expiatório como nosso substituto. O pão partido representa o corpo partido de nosso Senhor, e o vinho, representa Seu sangue derramado. A expiação está relacionada com nosso ser que agora está bem com Deus. A substituição significa que a expiação foi conseguida pela morte de um outro em nosso lugar.

Por que Jesus morreu? A Bíblia nos ensina que todos que já viveram até hoje são pecadores, pois quebraram a Lei de Deus e o pagamento pelo pecado é a morte. A Bíblia nos diz: “Como está escrito: Não há justo, nem um sequer, não há quem entenda, não há quem busque a Deus; todos se extraviaram, à uma se fizeram inúteis; não há quem faça o bem, não há nem um sequer” (Rm 3:10-12). Nos diz: “porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm 6:23). Esta morte não é só física, se bem que o é de fato, mas também é espiritual. A morte implica em uma separação. A morte física é a separação da alma e do espírito do corpo. A morte espiritual é a separa da alma e espírito de Deus. Merecemos esta separação como uma conseqüência de nosso pecado. Porém Jesus se converteu em nosso substituto quando experimentou a morte física e espiritual em nosso lugar.

Uma ilustração viva deste princípio vemos nos primeiros capítulos de Gênesis. Adão e Eva haviam pecado e tinham agora medo de suas conseqüências. Deus os havia advertido dizendo: “E o SENHOR Deus lhe deu esta ordem: De toda árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás” (Gn 2:16-17). É possível que tivessem uma idéia muito clara do que significava a morte, porém sabiam que deveria tratar-se de algo muito sério. Em conseqüência, quando pecaram por sua desobediência, e logo escutaram a voz de Deus que se aproximava no jardim, tentaram se esconder.

Porém ninguém pode se esconder de Deus. Deus lhes falou e chamou para que saíssem de seu esconderijo e começou a tratar a sua transgressão. Que deveríamos esperar que sucedesse como resultado dessa confrontação? Aqui está Deus que havia dito aos nossos primeiros pais que no dia que pecassem nesse dia morreriam. Aqui estão Adão e Eva caídos em pecado. Dadas as circunstâncias, cabia esperar a execução imediata da sentença de Deus. Se Deus os houvesse matado nesse mesmo momento, tanto física como espiritualmente, colocando-os fora de Sua presença para sempre, haveria feito o que era justo.

Mas não foi isto que sucedeu. Ao contrário, Deus primeiro os admoestou por haverem pecado e logo ofereceu um sacrifício. Como resultado, Adão e Eva foram vestidos com pele de animais mortos. Foi a primeira morte que alguém já presenciou. Foi Deus que realizou. Enquanto Adão e Eva presenciavam, deviam estar aterrorizados. No entanto, enquanto se escandalizavam pelo sacrifício, ao mesmo tempo estavam maravilhados. Porque o que Deus lhes mostrava era que era embora merecessem morrer, no caso destes animais, eles morreram em lugar deles. Os animais pagaram o preço do seu pecado e eles foram revestidos com as peles dos animais como recordação do fato.

Este é o significado da substituição. É a morte de um em lugar de outro. No entanto, devemos dizer que segundo o ensino da Bíblia, a morte de animais nunca pode pagar o castigo do pecado (Hb 10:4). Este acontecimento era só um símbolo sobre como o pecado haveria de ser pago. O sacrifício real foi realizado por Jesus Cristo, e isso vemos no culto quando é celebrada a Ceia.

Também olhamos para trás e vemos algo que Jesus sugeriu quando falou do vinho: “o sangue da aliança” (Mc 14:24) e “da nova aliança no meu sangue” (1 Co 11:25). Olhamos até trás para essa vitória em cuja base Deus tem estabelecido uma nova aliança de salvação com seu povo redimido. Um pacto é uma promessa solene confirmada por um juramento ou um sinal. Foi assim quando Cristo falou do cálice como comemorando comemoração de um novo pacto. Ele estava sinalizando para as promessas de salvação que Deus nos havia feito sobre a base da Sua morte. Isso nos vem unicamente por sua graça.

O Significado Presente

A Ceia do Senhor tem um significado presente. Primeiro, o sacramento é algo que participamos repetidas vezes, recordando a morte do Senhor repetidas vezes até que Ele venha. Segundo, é uma oportunidade para examinar nossas vidas à luz de nossa profissão de fé em sua morte. Paulo disse: “Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e, assim, coma do pão, e beba do cálice; pois quem come e bebe sem discernir o corpo, come e bebe juízo para si” (1 Co 11:28-29).

No centro do significado presente da Ceia do Senhor está nossa comunhão em Cristo. Daí a expressão: “Culto de Comunhão”. Ao participar deste culto o crente crê que vai encontrar-se com Cristo e ter comunhão com Ele porque está sendo convidado por Ele. O exame tem lugar porque seria uma hipocrisia aparentar estar em comunhão com o Santo e manter algum pecado em nossos corações.

O modo como Jesus está presente no culto de Comunhão tem sido tema de controvérsias e divisões na igreja cristã. Há três teorias. A primeira delas é que Jesus não está presente, pelo menos não está mais presente da forma como está presente em todo lugar. Para quem sustenta este ponto de vista, a Ceia do Senhor tem exclusivamente um caráter recordatório. É só um memorial da morte de Cristo. A segunda teoria é a sustentada pela Igreja Católica Romana. Segundo esta teoria se supõe que o corpo e o sangue de Cristo estão literalmente presentes sob a forma de pão e vinho. Antes da missa os elementos são simplesmente pão e vinho. Porém durante a missa, mediante as administrações que realiza o sacerdote, estes elementos são modificados para que, ainda que os adoradores percebam apenas o pão e o vinho, estão sem dúvida comendo e bebendo o corpo e sangue de Jesus. Este processo chama-se transubstanciação. A terceira teoria, a que sustentava João Calvino em particular e outros reformadores, é que Cristo está presente no culto de Comunhão, porém espiritualmente e não fisicamente. Calvino chamou a isto de “a presença real” para indicar que uma presença espiritual é tão real como uma presença física.

Que temos de pensar sobre estas teorias? Para começar devemos dizer que não pode haver nenhuma oposição à teoria recordatória, já que é correta. A questão é se há algo mais envolvido além da memória., além da lembrança, apenas. A divisão fundamental consiste entre as posições da maioria dos reformadores e a doutrina da Igreja Católica Romana. Os que estão a favor de uma presença física, literal (e Lutero foi um deles, se bem que não aceitou a doutrina da transubstaciação) argumentam que esta é a interpretação literal das palavras de Cristo “Este é o meu corpo” (Mc 14:22). Porém isto não é suficiente para elucidar este assunto, porque ditas expressões ocorrem com freqüência na Bíblia em sentido evidentemente figurativo ou como representação de outra coisa. Por exemplo:

“As sete vacas são sete anos” (Gn 41:26)
“Tu eras a cabeça de ouro” (Dn 2:38)
“O campo é o mundo” (Mt 13:38)
“A Rocha era Cristo” (1 Co 10:4)
“Os sete candeeiros são as sete igreja” (Ap 1:20)
“Eu sou a porta das ovelhas” (Jo 10:7)
“Eu sou a videira verdadeira” (Jo 15:1)

Que Jesus estava usando uma linguagem figurada e não realizando um milagre de transubstanciação se evidencia do fato de que seu corpo estava presente enquanto falava a seus discípulos. Agora, seu corpo ressuscitado está no céu.

Um motivo para tomar a presença de Cristo no sacramento como sendo uma presença espiritual é que este é o sentido em que se deve entender cada uma das promessas sobre a presença de Cristo conosco nesta época em que vivemos. Bannerman escreveu:

“As promessas tais como ‘Eis que estou convosco até o fim do mundo’; ‘Onde estiver dois ou três reunidos em meu nome, eu estou no meio deles’; ‘Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir minha voz e abrir a porta, entrarei a ele e cearei com ele e ele comigo’; e outras similares, dão pé para afirmar que Cristo mediante seu Espírito, está presente nas práticas de fé do crente transmitindo sua bênção e sua graça espiritual. Porém não há nada que nos leva a fazer uma diferença ou distinção entre a presença de Cristo na Ceia e a presença de Cristo em outras práticas, no que diz respeito a dita presença. A eficácia da presença do Salvador pode ser diferente no modo de distribuir mais ou menos graça salvadora, de acordo com a natureza da prática, e a medida da fé do crente. Porém a forma que assume a dita presença é a mesma, sendo realizada mediante o Espírito de Cristo e a fé do crente”.

Há alguns versículos muito conhecidos no capítulo 6 de João que também nos falam sobre a fé em Cristo e sobre nos alimentamos espiritualmente dele, se bem que não falem literalmente sobre a Ceia do Senhor, já que dito sacramento não havia sido instituído. “Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tendes vida em vós mesmos. Quem comer a minha carne e beber o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia. Pois a minha carne é verdadeira comida, e o meu sangue é verdadeira bebida” (Jo 6:53-55).

Se desejamos sinônimos para “comer” e “beber”, os encontramos em João 6 na idéia de crer (vs. 29, 35, 47), vir (v. 35), ver (v. 40), escutar e aprender dele (v 45). Todos estão indicando uma resposta a Jesus. Os termos comer e beber enfatizam que esta alimentação tem de ser por uma fé tão real como comer literalmente.

O Significado Futuro

O terceiro significado da Ceia do Senhor é futuro. Paulo disse: “Porque, todas as vezes que comerdes este pão e beberdes o cálice, anunciais a morte do Senhor, até que ele venha” (1 Co 11:26). O Senhor sugeriu o mesmo quando lhe disse a seus discípulos que estavam comendo a última ceia com ele: “Em verdade vos digo que jamais beberei do fruto da videira, até àquele dia em que o hei de beber, novo, no reino de Deus” (Mc 14:25).

Falamos sobre a presença real do Senhor Jesus Cristo no culto tal como o conhecemos agora e buscamos responder a seu chamado e servi-lo. Estamos prontos a admitir que há momentos em que isto é difícil e parece ser como que o Senhor não está presente. E seja por causa do pecado, da fadiga ou simplesmente por falta de fé, Jesus as vezes parece estar distante. Mesmo que continuemos em nossa vida cristã e no serviço, anelamos esse dia em que o veremos face a face e seremos como Ele (1 Jo 3:2). O culto de Comunhão serve para lembrarmos esse dia. É um vislumbre da grande ceia matrimonial do Cordeiro. É para nos animarmos na fé e para nos impulsionar cada vez mais alto na santidade.