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13 de jan. de 2015

A questão do método Pressuposicionalista

Por Morgana Mendonça dos Santos

No livro Apologética Cristã do Cornelius Van Til, traduzido pelo Dr. Davi Charles Gomes, tem um capítulo específico sobre a questão do método. Esse pequeno texto é um resumo do capítulo. Devo dizer que tudo escrito aqui é apenas uma pequena repetição do texto do Van Til. O autor nesse capítulo leva o leitor a investigar a forma pela qual devemos levar alguém ao conhecimento da verdade. Indicar a natureza de uma apologética verdadeiramente protestante, isto é, uma apologética reformada, com a busca para a defesa de uma cosmovisão reformada de acordo como o cristianismo é. O autor afirma que a visão do católico romano e do arminiano sobre a questão do método e ponto de partida é um assunto neutro, a fim de juntar-se legitimamente ao cientista ou filósofo incrédulo, quando, através de seus métodos reconhecidos, investiga certas dimensões da realidade.

O apologeta reformado acredita que toda realidade criada, incluindo os campos da pesquisa com a qual as várias ciências lidam, revela o mesmo Deus acerca do qual as Escrituras falam. A própria essência da realidade criada é seu caráter revelacional. Já os apologetas católicos e arminianos acreditam que devem usar o método do homem natural, crendo até certo ponto na autonomia e supremacia da personalidade humana. O arminianismo pode, de certa forma, concordar, na questão do ponto de partida, com aqueles que consideram o homem o ponto de referência final de toda predicação humana. Assim também, crendo até certo ponto na existência de fatos que não são totalmente controlados e dirigidos pelo conselho de Deus, é possível ao arminianismo concordar, na questão do método, com aqueles para quem o objeto do conhecimento não tem ligação alguma com o plano de Deus.

Em contraste com católicos romanos e arminianos, entretanto, o apologeta reformado, de forma nenhuma, pode concordar com a metodologia do homem natural. O apologeta reformado deve buscar seu ponto de contato com o homem natural naquilo que está abaixo do limiar de sua consciência ativa, isto é, no senso de divindade que ele busca suprimir, discordando assim da ideia que o homem natural faz de si mesmo, como ponto de referência último. A forma como o apologeta reformado faz isso é conforme uma busca do ponto de contato com os sistemas construídos pelo homem natural. Deve haver uma colisão frontal com os sistemas do homem natural, para que exista o ponto de contato por meio do senso de divindade no homem natural.

Van Til entende que de acordo com a doutrina da fé reformada, todos os fatos da natureza e da história são o que são, fazem o que fazem e sofrem o que sofrem em conformidade com o conselho único e abrangente de Deus. Tudo o que deve ser conhecido pelo homem já é conhecido por Deus. E já é conhecido por Deus porque é controlado por Deus, chama-se isso de antítese.

1. Argumentando por pressuposição

O método vantiliano significa unificar a cosmovisão e o método, pois são intercambiáveis. Argumentar por pressuposições é ressaltar os princípios epistemológicos e metafísicos que sustentam e controlam cada método. Não pode deixar sua cosmovisão cristã de lado a fim de ganhar credibilidade com um incrédulo. A metodologia do apologeta reformado tem como pressuposição a verdade do teísmo cristão. Os apologistas reformados irão apelar para o conhecimento do verdadeiro Deus que o homem natural conhece porém suprime. Em seu âmago o homem natural sabe que é criatura de Deus, sabe também que é responsável diante de Deus, como sabe que deve viver para a Sua glória. Contudo, ele suprime o conhecimento de si mesmo, tal como ele é. Ele é o homem da máscara de ferro, um método verdadeiro deverá ser aplicado para buscar destruir essa máscara.

2. Escrituras

Assim, a Bíblia, como revelação inspirada infalível de Deus ao homem pecador, figura diante de nós como aquela luz pela qual todos os fatos do universo criado devem ser interpretados. Devemos afirmar que um protestante aceita a Escritura como o que a própria Escritura diz ser, em sua própria autoridade. A Escritura se apresenta como a única luz através da qual a verdade sobre os fatos e suas relações podem ser descobertas. Não podemos sujeitar os pronunciamentos normativos da Escritura sobre a realidade ao escrutínio da razão, pois é a própria razão que descobre sua função a partir da Escritura. O método com respeito à Escritura (cristianismo) e com respeito à existência de Deus (teísmo) deve ser o método indireto de raciocínio por pressuposição.

3. Metodologia de Blocos

Tendo em vista que o método apropriado para a apologética protestante é o método pressuposicional, em vez do método da aproximação direta, discordando assim a teologia arminiana e católica romana, podemos entender que: o método pressuposicional requer apresentar o teísmo cristão como uma unidade. Sem a pressuposição da verdade do teísmo cristão, nenhum fato pode ser distinguido de qualquer outro fato. Associando o princípio cristão de continuidade com o princípio cristão de descontinuidade, obtemos o princípio cristão de argumentação por pressuposições. A existência real do Deus do teísmo cristão e a autoridade infalível da Escritura que fala aos pecadores acerca deste Deus, é o que deve ser tomado como pressuposto para inteligibilidade de qualquer fato no mundo.

É parte da essência do método de argumentação tanto romanista como arminiana concordar com o incrédulo que proposições individuais acerca de diversas dimensões da realidade sejam verdadeiras, independentemente da veracidade do cristianismo. Nem o apologeta católico romano nem o arminiano se encontram em posição adequada para desafiar o procedimento atomista do homem natural. Suas próprias teológias são atomistas; não são construídas de forma consistente com o sistema cristão. Suas doutrinas individuais não, são, portanto, apresentadas como sendo aquilo que são, exclusivamente em virtude de sua relação com os princípios centrais da posição cristã.

O argumento do apologeta católico romano e do arminiano de que a fé reformada esteja errada em considerar todas as coisas no mundo como sendo o que são, basicamente em virtude do plano de Deus com respeito a elas, os compele a admitir a precisão essencial do atomismo não cristão. Com isso, eles perdem todo poder de desafiar a metodologia não cristã desde o início de sua jornada.

Recomendo a leitura do livro todo, pois o que foi escrito aqui são apenas partes pequenas do que a obra tem a dizer e ensinar. Nenhum mérito tenho aqui, pois lendo o livro fiz minhas anotações e organizei nesse simples resumo. Concordo com esse método pois entendo que seja o mais apropriado, qualquer discordância, será Van Til o questionado e nesse livro você pode encontrar quem sabe, as respostas.

"O pregador reformado descansa no poder do Espírito Santo quando fala aos homens que eles estão perdidos em pecado e necessitam de um Salvador. O pregador reformado não reduz sua mensagem para que ela tenha a aceitação do homem natural. Ele não diz que sua mensagem é menos verdadeira por ser rejeitada pelo homem natural. O homem natural está, em virtude de ter sido criado à imagem de Deus, sempre acessível à verdade; acessível à penetração da verdade pelo Espírito Santo"


Apologética Cristã, Van Til, p.102. 

10 de dez. de 2014

Van Til e Gordon Clark: Uma comparação

 
Por Phil Fernandes

Ao comparar os pensamentos de Cornelius Van Til e Gordon Clark, descobrimos vários pontos de concordância, bem como várias áreas de discordância. Em primeiro lugar serão examinados alguns pontos de concordância entre estes dois homens.

Ambos eram calvinistas sérios e consistentes. Como ambos acreditavam que, à parte da obra regeneradora do Espírito Santo, ninguém poderia livremente se decidir por Cristo, as tentativas diretas de persuadir os incrédulos eram consideradas contraproducentes.

Ambos concordavam que o evangelho deveria ser pressuposto, e não provado. Van Til e Clark sentiam que defender a verdade do evangelho era negar a doutrina calvinista da depravação total do homem. Ambos acreditavam que a razão do homem estava danificada devido à Queda e que seria inútil uma argumentação direta pela verdade do cristianismo. Ainda assim, ambos estavam dispostos a refutar as crenças dos incrédulos e fornecer uma confirmação indireta da verdade do cristianismo.

Ambos concordavam que a filosofia secular era um completo fracasso. Clark ensinava que todas as filosofias não cristãs reduziam-se eventualmente ao ceticismo. Van Til acreditava que a filosofia secular era fútil, posto que a razão humana encontrava-se num estado caído. Na sua visão, se a pessoa não pressupõe o Deus da Bíblia, nenhum conhecimento é possível. Contudo, Van Til acreditava que até mesmo os incrédulos pressupõem a existência de Deus (embora suprimam esta verdade) para encontrar a verdade.

Ambos concordavam que a apologética tradicional é antibíblica e inútil. Ao longo de seus escritos, Clark e Van Til depreciavam o método tradicional de defesa da fé. Eles acreditavam que entre o crente e o incrédulo não havia campo de batalha neutro onde o cristianismo poderia ser defendido. O evangelho deveria ser pressuposto em vez de defendido. Eles não viam qualquer utilidade aos argumentos clássicos para a existência de Deus ou para o uso tradicional de evidências históricas para a fé cristã.

A despeito desses pontos de concordância entre Clark e Van Til, havia áreas de discordância. Os exemplos a seguir ilustrarão isso.

Eles discordavam sobre o raciocínio circular. Van Til acreditava que todo raciocínio é circular. A conclusão dos argumentos de uma pessoa pode sempre ser encontrada nas premissas dos seus argumentos. No entanto, Clark era mais racionalista em seu pensamento. Considerava o raciocínio circular uma falácia lógica. Por causa disso, Clark pressupôs de forma dogmática seu princípio primeiro (A existência do Deus da Bíblia [1]) e então deduziu as suas crenças a partir deste princípio primeiro.

Eles discordavam sobre o status e uso da lei da contradição. Clark acreditava que a lei da contradição fluía da natureza de Deus. Ele ensinava que Deus é lógica. Portanto, ao pressupor o Deus trino que se revelou na Bíblia, ele também pressupôs a lei da contradição. Ele então usaria essa lei para destruir os sistemas de crenças dos incrédulos.

Van Til, no entanto, acreditava que essa lei era uma limitação humana que Clark tinha forçado sobre Deus. Van Til acreditava que Clark sujeitara Deus a essa lei. Embora Van Til usasse esta lei para refutar os demais sistemas de crenças, isto somente assim se dava porque ele escolhera usar “a própria munição do inimigo para derrotá-lo na batalha”. De fato, a visão clarkiana da lei da não contradição é provavelmente o que produziu a maior lacuna entre o pensamento destes dois homens. Clark assumia a lei da não contradição como pressuposto ao fazer apologética. Van Til recusava-se a fazê-lo.
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NOTAS:
[1] É comum ver esta afirmação nas análises que são feitas sobre o pensamento de Clark. Contudo, quem lê todos os seus escritos e está mais familiarizado com seu método, percebe que o seu princípio primeiro era na verdade o seguinte: “A Bíblia é a Palavra de Deus”. “A existência do Deus da Bíblia” é uma crença extraída desse princípio primeiro, e não o próprio princípio primeiro. Na verdade, esta é outra diferença entre Clark e Van Til. Van Til começa com a existência do Deus trino, e Clark começa com a divina inspiração da Bíblia. [N. do T.]

Fonte: Monergismo

9 de dez. de 2014

Problemas na Apologética Clássica

Por Cornelius Van Til

1. O método tradicional de apologética cede demais em relação ao próprio Deus, por defender que sua existência só é ‘possível’, embora seja ‘bastante provável’, ao invés de defender que ela é ontológica e ‘racionalmente’ necessária.
2. Este método cede demais em relação ao conselho de Deus, por não entendê-lo como a ‘causa’ última, completamente abrangente, de tudo aquilo que acontece.
3. Este método cede demais em relação à revelação de Deus nos seguintes pontos:
(a) Fazendo concessões a respeito de sua necessidade. Isso acontece por não reconhecer que mesmo no Paraíso o homem tinha que interpretar a revelação geral (isto é, natural) de Deus em termos das obrigações pactuais impostas por Deus via revelação especial. A revelação natural, na abordagem tradicional, poderia ser interpretada ‘por conta própria’.
(b) Fazendo concessões a respeito de sua clareza. A revelação de Deus, tanto geral como especial, são tidas por obscuras [na visão tradicional], a ponto de o homem poder dizer somente que a existência de Deus é ‘provável’.
(c) Fazendo concessões a respeito de sua suficiência. Isso ocorre quando se abre espaço [na abordagem tradicional] para uma absolutização do ‘acaso’ ou ‘chance’, vindo daí alguns ‘fatos’ que são completamente novos para Deus e para o homem. Tais ‘fatos’ seriam ‘brutos’ (não interpretados) e inexplicáveis em termos da revelação de Deus, seja ela geral ou especial.
(d) Fazendo concessões a respeito de sua autoridade. Na posição tradicional, a característica auto-autenticadora da Palavra de Deus (e, portanto, sua autoridade) é secundária à autoridade da razão e da experiência. As Escrituras não identificam a si próprias: é o homem quem as identifica e reconhece em ‘autoridade’, em termos da autoridade do próprio homem.
4. O método clássico ainda cede sobremaneira em relação à criação do homem à imagem de Deus, ao postular a criação do homem e seu conhecimento como independentes do Ser e do conhecimento de Deus. Nessa abordagem, o homem não precisa de “pensar os pensamentos de Deus como Ele pensa” [think God's thoughts after him].
5. Este método cede demais a respeito da relação pactual com Deus, ao ignorar o ato representativo de Adão como absolutamente determinativo acerca do futuro.
6. Mais ainda, este método faz pouco caso da pecaminosidade da humanidade resultante do pecado de Adão ao ignorar a depravação ética do homem como algo que se estende a todos os aspectos da vida, incluindo o raciocínio e a atitude.
7. Por fim, este método faz pouco caso da graça de Deus ao ignorá-la como o pré-requisito necessário à “renovação da mente”. Afinal, na visão clássica o homem pode e deve renovar a mente pelo “uso correto da razão”.

“My Credo”, in: Jerusalem and Athens.
Traduzido por: Lucas G. Freire (Nov. 2011)
Fonte: Monergismo